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Festa No Covil
Autor: Juan Pablo Villalobos
Tradução: Andreia Moroni
Editora: Companhia das Letras
Páginas: 88

Sinopse: Tochtli é um pequeno príncipe herdeiro do narcotráfico mexicano. Fechado numa fortaleza no meio do nada, engana a solidão colecionando chapéus e palavras exóticas. Ele também tem uma ideia fixa: completar seu minizoológico com hipopótamos anões da Libéria e é bem capaz de conseguir que o rei, Yolcault, atenda seu desejo. Involuntariamente assustador e hilário em sua cândida crueldade, Tochtli relata sua própria educação sentimental, mostrando o coração do crime para além do bem e do mal. Nas ingênuas e disparatadas especulações desse improvisado detetive-antropólogo, atravessadas por suas fantasias e caprichos infantis, revela-se um quadro sinistro e doce como uma caveira de açúcar.

“Os cultos sabem muitas coisas dos livros, mas não sabem nada da vida.”                                                  

Um cenário de narcotráfico, assassinatos cruéis e tráfico de animais, cenário perfeito para uma história policial, claro, se isso não fosse narrado por uma criança...
                              
Sórdido, nefasto, pulcro e fulminante, essas são as palavras difíceis preferidas de Tochtli (Apesar de muitas vezes ele não as empregar de forma correta), o narrador dessa pequena e maravilhosa história, o jovenzinho que coleciona chapéus e tudo que mais quer no momento são hipopótamos anões da Libéria.

Tochtli como todos dizem é uma criança precoce, (sua idade não é revelada, mas presumo ser algo entre 8 e 10 anos) mas de qualquer forma uma criança e sua visão não deixa de ser como a visão de uma criança, uma visão lúdica, ele descreve tudo que se passa a sua volta de forma como se fosse maravilhoso, ele inclusive acredita que vive em um palácio.

Seu pai Yolcaut não o permite que ele o chame de pai, imagino ser uma forma de proteção e nessa tentativa de protege-lo e o transforma-lo em um homem forte e possivelmente liderar o tráfico em seu lugar no futuro, acabou tornando Tochtli em uma criança cheia de ideias erradas que acabam chocando, a criança acabou criando fixação em coisas absurdas como em mortes por decapitação , guilhotinas, samurais e chapéus, o menino tem contato direto com mortes dentro de sua própria casa e por isso julga seu lar como não sendo pulcro, a casa na verdade é uma espécie de forte no meio do nada, super protegida, inclusive tem animais selvagens presos no jardim e devoram restos dos inimigos de seu pai e o menino tem contato com tudo isso, mas ao mesmo tempo ele vê os bichos como animais de estimação e quer inclusive acrescentar hipopótamos anões da Libéria nesse incrível zoológico particular, ele acredita que vão ajudar no serviço de jardinagem uma vez que adoram devorar plantas daninhas.

É notável que Tochtli tenha uma mente perturbada, que ele tem problemas psicológicos, sua dores de barriga inexplicáveis, seu mudo seletivo inspirado no samurai de um filme que ele assistiu e nas pessoas que passam pela sua casa e não dirige uma palavra sequer a ele, inclusive a possível namorada do pai, que só come saladas e nada diz o tempo todo que está por lá, sua aversão a cabelos o leva a ser careca pois ele não acha bom carregar uma parte morta do corpo junto a si, ele é tão paranoico com os cortes de cabelo que chega a irritar Yolcaut.

Tochtli está acostumado a ter tudo que quer, basta fazer uma lista e um dos empregados do pai saia rua e compra, ou manda vir de algum lugar, basta ele desejar, que ele tem, o menino também costuma receber presentes quando está triste ou chateado, basta ficar descontente que vem mais chapéus para sua coleção, o que nota se é que ele está tão acostumado a ter tudo e assim ele sente a necessidade de cada dia desejar coisas mais difíceis como os hipopótamos e o sabre japonês. Um belo dia seu pai tendo de fugir de possíveis investigações policiais e etc, resolve que vão fazer uma viagem fora do país e deixa o menino escolher o destino e mais que depressa ele escolhe a Libéria para assim poder caçar seu novo desejo... Soa como se ele estivesse testando o amor do pai, querendo saber se o pai realmente lhe daria tudo.

Imaginem uma criança descrevendo um cadáver, isso já soa chocante, mas pior seria essa criança descrevendo  cadáveres naturalmente e descrevendo a forma como se “produz” esses cadáveres, Tochtli tem uma visão tão deturpada do certo e errado que para ele, falar essas coisas é completamente normal.
“Na verdade existem muitos jeitos de fazer cadáveres, mas os mais usados são com os orifícios.”
“– Um tiro no coração.
- Cadáver.
- Trinta tiros na unha do dedo mindinho do pé esquerdo.
- Vivo.
- Três tiros no pâncreas.
- Diagnóstico reservado.”
Apesar de toda essa podridão que já invadiu a mente e o coração de Tochtli, é também perceptível uma sensibilidade que ainda insiste em existir dentro dele e que uma criança pequena ainda habita seu corpo...
“... Também fiz xixi nas calças. Eu gritava tanto como se fosse um hipopótamo anão da Libéria querendo que quem me escutasse preferisse morrer para não ter que me escutar.”
Você percebe que apesar de toda frieza existe uma criança carente de carinho  e de atenção e as formas que ele arruma para chamar atenção são um tanto quanto estranhas,  a coisa mais normal de criança que ele faz no livro todo é ficar dias vestido com seu roupão e dizendo ser um samurai...
Tochtli tem um professor particular, um culto e idealista, cheio de discursos que passa suas ideias ao menino, deixando assim sua cabeça mais confusa ainda.

Eu adorei o livro, achei muito interessante essa história toda narrada por uma criança, a mensagem que passa é que a convivência direta com alguma coisa acaba nos tornando insensível a tal coisa, mesmo que seja a violência, se visto de perto e com frequência, acaba não mais chocando e isso com certeza não é algo bom, principalmente quando se é uma criança pequena como Tochtli e quando seu caráter ainda está sendo moldado.

Tochtli tem uma necessidade de parecer “macho” o tempo todo, de não parecer um “maricas” como ele mesmo diz, e isso o torna uma criança reprimida e cheia de preconceitos, a falta de um carinho materno contribui muito, ele não é mais capaz de distinguir uma gentileza quando alguém a faz, tanto que se desfaz de um brinquedinho que ganha de outra criança, apenas por não ser algo de marca e bem feito.
“É que a música na verdade trata de ser macho. Ás vezes os machos não tem medo, e por isso são machos. Mas às vezes os machos não têm nada e continuam sendo reis, porque são machos.”
"Teoricamente, se você não tem mãe deve chorar muito, litros e litros de lágrimas, umas dez ou doze vezes por dia. Mas eu não choro, porque quem chora é dos maricas. Quando fico triste, o Yocault diz para eu não chorar, ele fala assim:
-Segura Tochtli, segura como um macho."
O fato de o livro ser todo narrado por uma criança dificulta no entendimento dos acontecimentos em volta dele, você fica só desconfiando que seja algo relacionado ao pai traficante, como as mortes que passam na TV, o menino fala daquilo inocentemente, mas em algum momento você percebe pelos comentários do pai, que sim, Yolcaut tem algo a ver com aquilo, mas isso não se torna uma certeza, são esses detalhes que tornam o livro bastante interessante.

O livro é bem pequeno, é uma leitura rápida, daquela que prende, trata se da dualidade, do fantasioso e inocente e do cruel a maldoso, eu finalizei em poucas horas, mas posso dizer que foi um dos melhores livros que li desde o final do ano passado e o começo desse, eu recomendo com certeza.

Uma das capas mais bonitas que já vi, logo quando vi em um blog eu me apaixonei e decidi que queria esse livro, ganhei de presente do namorado e o livro faz jus a bela capa e eu adoro a cultura mexicana e sempre tive fixação em caveiras mexicanas, foi então que resolvi pesquisar sobre a arte da capa e achei um texto bem legal, se alguém se interessar só clicar aqui.

13 Comentários

  1. Gostei. Fiquei com muita vontade de ler o livro depois dessa sua esperta resenha. Certamente, mais um livro incluido na lista de desejos de um leitor comprometido.

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  2. Acho que é o único livro que vou ler esse ano ahaha, pequeno, prático e com violência e dorgas

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  3. Pela resenha parece legal,e como vc disse que um livro de poucas PAGINAS deve ser BARATINHO...

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  4. Imagino que esse livro deve ser muito tocante e crítico. Fiquei bastante curiosa, já que nunca li nada que retratasse cultura mexicana. Além disso, deve ser um pouco "pesado" pelo contexto que você falou.
    Vou procurar saber mais ;)
    Beijos, Ju - Céu de Letras

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  5. Oii Andy! Gostei bastante de sua resenha.
    Esse livro parece ser bem tenso apesar das suas poucas páginas.
    Quando olhei a capa e o título não imaginava que se tratava de uma história de um nível tão denso e obscuro assim.
    Mas deve ser bem interessante ver essa mistura de fantasia e inocência com algo mais cruel e maldoso.
    Parabéns pela resenha! =D

    Beijos
    http://www.houseofchick.com

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  6. Andy menina não tenho coragem de ler algo tão assim mas parabens pela resenha tão bem escrita adorei e estou seguindo seu blog já viu queridona...

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  7. Eu particularmente adoro livros assim, intensos e uma leiturinha assim curtinha mas recheada de tantas emoções sempre cai bem né? obrigada pela visitinha viu lindinha e volte sempre estou seguindo seu blog agora para sempre ver suas postagens

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  8. Adorei a resenha, parabéns! Não conhecia o livro ainda.

    Beijo,
    www.estanteseletiva.com

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  9. Olá minha querida, tudo bem com você ?
    Primeiramente peço lhe mil desculpas por não ter passado aqui em seu Blog antes, porque estou numa correria danada durante a semana agora. Mas vc vai entender passando em meu blog, pois lá estou explicando para os leitores que me seguem.

    E também dizer que gostei muito do seu cantinho. Gostei do seu Lay e principalmente das suas postagens. Você escreve muito bem. Pode contar comigo para te visitar SEMPRE. Já estou te seguindo e irei te linkar em meu blog. Espero que você faça o mesmo por mim, pois vai ser uma honra te receber sempre no meu mundinho de leitura =]

    Fica com Deus minha querida e mais uma vez OBRIGADA pelo carinho.

    beijinhos

    lovereadmybooks.blogspot.com.br

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  10. Esse livro está na minha lista de desejados há meses. Pedi de amigo oculto, de aniversário, natal e nada, terei que comprá-lo... rs. Adorei tua resenha, gosto demais de ler citações nas resenhas.

    Bjos
    P.S.: Depois visita meu site, quem sabe a gente não faz uma parceria... :D

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  11. Parece bem legal, adorei sua resenha, me instigou bastante.
    Fico feliz quando encontro livros que não conhecia e parecem ser muito bons.
    Beijos *-*
    clicandolivros.blogspot.com.br

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  12. Oi Andy, tudo bem?
    Gostei e muito da sua resenha. Eu quero ler esse livro já faz algum tempo, mesmo tendo um conteúdo forte. Também sou apaixonada por essa capa.
    Abraços,
    Você é o que lê

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  13. A resenha ficou muito interessante, o livro parece forte, desses que marcam.

    P.S: Se quiser segue meu blog, te sigo de volta

    www.reticenciando.com

    Milhões de beijos

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